Ofício de morrer
"Deus desempenha na poesia de Daniel Faria aquilo que o fluxo do real desempenha na obra de outros poetas: irrompe de um modo inesperado, gera uma angústia que perturba e con- sola, é disfuncional porque é silente o estrondo da sua ausência e anestésica a violência da sua epifania breve. Deus é o único corpo que não é um corpo estranho nesta poesia; a sua ausência é a figura mais contrastada na paisagem. O pressentimento de Deus é o modo como o fluxo do real se desdobra na trama, na tessitura do poema" [p. 50]. Este livro reúne dois ensaios de José Rui Teixeira: 'O corpo e a morte na poesia de Daniel Faria. Um tríptico para o desdobramento da imolação' e 'Um modo de te amar dentro do tempo. Sobre a saudade de Deus na poesia de Daniel Faria'; e um texto de José Nuno Ferreira da Silva: 'Prepara um ramalhete de mirra'.
Vestigia Dei
"E para que servem poetas em tempos de indigência? Servem para redescobrir esse espaço em que a imanência e a trans- cendência se intersetam. O poeta a que se refere Hölderlin desdobra a área de interseção transimanente: lugar coabita- do, teotopia poética. O poeta desdobra a área de interseção transimanente: é um mediador, agente de intercessão ao modo do santo, mas em sentido inverso: o santo intercede pelos homens junto de Deus, o poeta intercede por Deus junto dos homens" [p. 77].